domingo, 24 de janeiro de 2010

São José de Mipibu

Lembranças de um Brasil Imperial

REGIÃO AGRESTE

Os engenhos representam a economia de São José de Mipibu.

Quem visita a cidade de São José de Mipibu ainda tem o privilégio de conhecer um pouco da história, riqueza e cultura de uma época em que a economia da cana de açúcar e os engenhos dos barões representavam o Brasil Imperial. Percorrendo as ruas estreitas da cidade, praticamente estamos fazendo um passeio pelo passado do Rio Grande do Norte.

O visitante vai encontrar poucos prédios que restaram dos áureos tempos, alguns ainda preservados. O conjunto arquitetônico é integrado por dois sobrados e alguns casarões, a maioria destruída. A origem dos belos casarões está na demonstração de riqueza e opulência dos senhores de engenho, muitos dos quais com o título de barão. Eles viviam o dia a dia das fazendas, mas tinham suas casas na cidade. E quanto mais bonitas e ricas, mais importante era o senhor de engenho.

O poder econômico do Rio Grande do Norte estava em São José do Mipibu. Em 1845, o município contava com 35 engenhos em funcionamento, entre eles, o Boa Vista, Olho D'Água, Lagoa do Fumo (que era do Barão de Mipibu), Pituba, da Bica, Mipibu, Santo Antônio e Beleza.

A decadência (política e econômica) começou com a Segunda Guerra. Segundo a historiografia local, muita gente deixou a cidade para ir trabalhar na Base dos Americanos, em Parnamirim. A presença americana também contribuiu para descaracterizar a cidade. Quem tinha sua casa no estilo colonial e conhecendo o novo estilo arquitetônico importado dos Estados Unidos, fez reforma na fachada das casas e contribuiu para descaracterizar a cidade.

Hoje, São José de Mipibu procura recuperar o tempo perdido. Quer se preparar para o futuro com o turismo, tendo como atração o seu passado. Há planos para urbanização da paisagem da cidade e transformação dos velhos engenhos em sofisticadas pousadas.

A diversidade mipibuense
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Igreja de São José, padroeiro do município.

Abrangendo uma população rural e urbana, em torno de 40 mil pessoas, a cidade de São José de Mipibu está localizada as margens da BR-101, sentido Sul, a 40 km de Natal. A economia da região conta com uma pecuária desenvolvida e uma forte produção agrícola, com destaque para a cana-de-açúcar, frutas e cereais.

O artesanato está preservado através das mãos hábeis de Alberto Jobi, que utiliza o barro na fabricação manual de louças, estatuetas, jarros, bustos, cinzeiro, lustre, pote e todo tipo de artefato utilitário.

A cidade tem como principal atração turística, a Fonte da Bica, situada há dois quilômetros da cidade, na foz do Rio Mipibu. Na região, o folclore é vivido intensamente, com a presença de “Banbelôs”, “João Redondo” e o “Pastoril”, animando as principais festas da cidade.

No dia 26 de julho, São José de Mipibu realiza as festividades em comemoração aos seus dois padroeiros, Santana e São Joaquim, com a realização de cerimônias e manifestações populares que reúnem devotos dos mais distantes lugares da região.

Origens do município
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Mipibu é uma palavra de origem Tupi que significa “surgir subitamente”. Nos idos de 1630, o aldeamento existente no território de nome Mipibu era o maior e mais populoso entre as seis aldeias da Capitania do Rio Grande do Norte. O rio recebeu o nome de Mipibu porque surge de repente na famosa Fonte da Bica e percorre mais de quatro quilômetros até desaguar no Rio Traíri. Os primeiros habitantes da região foram os índios Tupis. Eles se localizavam nas proximidades do rio.

Em adiantado processo de organização e sinais de povoamento, o aldeamento passou a ser coordenado pelos frades Capuchinhos, do final do século XVII até o ano de 1762, quando foi instalada a Vila de São José do Rio Grande. Depois, com a saída dos Capuchinhos, a coordenação dos destinos da comunidade foi assumida pelos próprios nativos.

A criação do município veio através do Alvará de 03 de maio de 1758, confirmado pela Carta Régia de 14 de setembro de 1758, com procedimento de Vila de São José do Rio Grande foi elevada à categoria de cidade. Passou a chamar-se então cidade de Mipibu. Passados dez anos, a cidade recebeu o nome de São José de Mipibu, numa união entre a religiosidade e o famoso rio Mipibu, que emerge da terra de maneira surpreendente.

Engenho Olho D’Água preservando as raízes

Os engenhos represetam a alma de São José

Em dezembro de 1773, na Vila de São José do Rio Grande do Norte, atual cidade de São José de Mipibú, o português Miguel Ribeiro Dantas, oriundo de Antas no conselho de Coura entre Douro e Minho, fundou o Engenho Olho D’água, fabricando inicialmente açúcar mascavo, mel de engenho, rapadura e cachaça.

A cana de açúcar, colhida na própria propriedade era esmagada no engenho de madeira chamado “banguê” e movido à tração animal – hoje, existe uma réplica no local. O açúcar fabricado era destinado ao mercado Europeu, a rapadura para o mercado interno, o mel de engenho para ração animal e a cachaça para estimular o trabalho escravo.

Em 1774, foi construída a Casa Grande do engenho Olho D’Água e reformada em 1861. Com o constante crescimento da indústria açucareira, em meados do século XIX, Joaquim Silvino importou da Europa um moderno maquinário e montou na casa do engenho a recém adquirida moenda impulsionada a vapor de caldeira em substituição à primitiva engenhoca movida à tração animal.

Desenvolvida pelo Sr. João Berckmans de Salles Dantas, essa cachaça tornou-se famosa pela pureza e boa qualidade, sendo consumida em grande quantidade pelos mipibuenses apreciadores do precioso liquido e ainda comercializada para os municípios vizinhos.

Em 1998, o atual proprietário, na busca do resgate de suas raízes restaurou o maquinário importado da Europa em 1882 por seu avô paterno, ainda em bom estado de conservação, instalando as antigas moendas, agora impulsionadas por motores elétricos, voltando a produzir a famosa Cachaça que por mais de duas décadas teve sua produção interrompida, agora num processo artesanal.

Restaurou os antigos prédios que serviam de senzala, casa de purgar açúcar, destilaria e casa de fermentação, surgindo daí a idéia de compartilhar com outras pessoas toda a sua história, abrindo assim as portas do engenho à visitação, tendo opção de realizar atividades variadas como cafés da manhã, almoços, encontros, aniversários, visitações turísticas e mensalmente resgatando a cultura popular num autêntico forró pé-de-serra denominado “Forró do Olho D’Água”.

Vista aérea do centro de São José do Mipibu

Rua centrais.
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Praça central de São José
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Prédios antigos em estilos coloniais

Conjunto de casarios preservado

O município é polo da cerâmica, no artezanado e para construção civil

Casarios coloniais preservados no centro da cidade

Um comentário:

Jacy Rocha e Laura Martinho disse...

Esta é a cidade de origem da minha família. Meu avô João da Rocha (conhecido como João de França) casado com Maria Ferino. Meu pai Joaquim Ferino da Rocha, nasceu também nesta cidade e casou-se com Nair Amorim Freire, nascida em Natal. Gostaria muito de encontrar outros familiares além de irmãos e primos que moram atualmente em Natal. Tenho outros primos que ainda residem nesta cidade.