quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Nísia Floresta

Uma homenagem literária à Vila de Papary

REGIÃO AGRESTE

A pesca sempre farta dentro das lagoas e as terras de boa qualidade para o plantio de várias lavouras serviram de impulso para o progresso econômico do povoado, que até hoje se mantém baseado na agricultura, na pecuária, na pesca e também na força turística de suas praias e lagoas.
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Os primeiros habitantes da região de Papary, conhecida desde 1607, foram os índios Tupis. O Nome Papary originou-se de uma lagoa de pesca abundante, existente no território, ao lado das lagoas Guaraíras e Papeba.

No livro “Nomes da Terra”, Luís da Câmara Cascudo escreve: “Selvagens que ali demoravam, ignorantes de meios de armadilhas de pescar, organizavam pequenas balsas de madeira, amarradas em cipós; punham sobre elas ramos de cajueiros e então, aparelhados, vadeavam a lagoa e agitando com as varas, provocavam o salto do peixe ‘pari’ que caía entre os ramos sobre as balsas, fendo desse modo os indígenas as suas pescarias, que quer dizer ‘salto de peixe’. Com a fusão das línguas tupi e portuguesa, o nome modificou para o Papary, com o qual foram denominada a Lagoa e a Vila”.

Em 1703, já com a presença portuguesa, o povoado começou a erguer a igreja de Nossa Senhora do Ó, concluída somente 52 anos depois, em 1755. Foi pela Lei Provincial que o povoado desmembrou-se de São José de Mipibu, tornando-se município com o nome de Vila Imperial de Papary. A atual denominação Nísia Floresta foi dada pelo Decreto-lei, em de 23 de dezembro de 1948, em homenagem à sua mais ilustre filha, a escritora Nísia Floresta.

O município de Nísia Floresta está localizado na Região Litoral Agreste do Estado, a 43 quilômetros, onde residem cerca de 20 mil pessoas. Nísia Floresta conta com a beleza da praia de Búzios, Pirangi do Sul, Barra de Tabatinga, Barreta e Camurupim.

Ainda há o encantamento das lagoas Boágua, Carnaúba, Carcará, Redonda, Bomfim e Ferreira. A gastronomia da cidade oferece o famoso camarão da região, prato predileto na culinária potiguar.
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O Gigante Baobá - Um dos maiores do Brasil, com um tronco de quatro metros de diâmetros, 13 metros de circunferência e uma copa de aproximadamente 19 metros de altura, plantada em 1877 por Manuel de Moura Júnior e tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, no ano de 1965. O baobá, mundialmente conhecido pelo livro “O Pequeno Príncipe”, do escritor francês Saint Exupéry, é uma árvore natural do continente africano e virou um dos ícones de Nísia Floresta.

Estação de Papary -Edificada em 1881 pelos ingleses da companhia Great Western. Feita em estilo neoclássico, com arcos em estilo gótico, ela foi tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual do Meio Ambiente, em dezembro de 1984. Atualmente, abriga o restaurante Marinas Camarões.


Mausoléu de Nísia - Túmulo onde estão depositados os restos mortais da escritora Nísia Floresta. Foi um monumento erguido em 1909, pelo governador Alberto Maranhão.

Igreja de Nossa Senhora do Ó - Erguida pelos portugueses em estilo barro, a Igreja foi concluída em 1755. Num altar folheado a ouro se destacam duas imagens bem antigas, vindas de Portugal: São Benedito e a padroeira Nossa Senhora do Ó.

Quem foi Nísia Floresta?
Ela nasceu em Papary, mais precisamente no Sítio Floresta em 1810. Filha de uma das mais importantes famílias da região, Dionísia Gonçalves Pinto, seu nome de batismo, entrou para história como uma escritora que teve coragem de pensar e defender suas idéias, consideradas revolucionárias pela sociedade conservadora da época. Ela entrou para o mundo literário com um pseudônimo que se tornou internacionalmente conhecido, o de Nísia Floresta Brasileira Augusta. A escritora de Papary tornou-se famosa, sendo admirada por muitos e questionada por outros tantos. Era tida como extraordinária, notável, ao mesmo tempo em que era considerada mestiça e indecorosa.

Nísia Floresta no Cinema
A produtora cultural Izabela Camilo, depois de pesquisar durante mais de dez anos sobre a vida e obra de Nísia Floresta, pretende contar essa história através das telas de cinema. A pesquisadora convidou a atriz Lucélia Santos para a direção do filme, que antes seria dirigido por Luiz Carlos Lacerda, o mesmo diretor de “For All, Trampolim da Vitória”. De acordo com Izabela Camilo, parte das tomadas no Rio de Janeiro também servirá para ambientar o período em que Nísia passou em Paris, lugar onde a poetiza potiguar teve um contato estreito com o escritor Auguste Comte, o pai do positivismo. Segundo Izabela, a idéia de lançar o filme, cujo título é “Nísia Floresta, a Brasileira Augusta”, partiu do pressuposto de que poucas pessoas no Brasil, e no próprio Estado do Rio Grande do Norte, conheçam esse ícone feminino da cultura. “Tudo pelo qual ela lutou, ao longo de sua vida, foi e continua sendo atual”, afirmou.

O município é um grande produtor de camarão. Água de boa qualidade garante o cultivo da carcinocultura.

Lagoa do Carcará, uma das várias lagoas de Nízia Floriesta.

Lazer e descanso na Lagoa do Carcará, atraindo turistas de todo o Brasil.

Vista parcial da cidade de Nísia Floresta, guardando uma atmosfera interiorana.

Detahes da fachada do cemitério público.

Casarão colonial guardando histórias de Nísia Floresta.

Estação de trem Papary transformou-se num restaurante aconchegante, onde serve comidas típicas e o melhor camarão da região.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Nova Cruz

A nova cruz e a lenda da anta esfolada

REGIÃO AGRESTE
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Pórtico de entrada dá as boas vindas ao turista que vem à Nova Cruz.
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Visitar o sertão de Nova Cruz é vencer os agrestes e atirar os olhos no espetáculo das juremas em flor quando o inverno chega, como se as chuvas temporã trouxesse os vaqueiros para a beira do Rio Curimataú somente para sentir o cheiro da caatinga. O frondoso rio era um bom lugar para o descanso dos vaqueiros, vindos da Paraíba, quando passavam com seus rebanhos de gados e aboiando o canto liberto do sertão.

Quando os vaqueiros encontravam água perene do Rio Curimataú, terra abundante para pastos e um povo acolhedor, muitos fixaram moradia. No início da colonização, o povoado foi chamado de Urtigal, pela quantidade de urtigas existentes na região. Logo depois, o nome do lugar foi mudado para Anta Esfolada, em virtude de alguns fatos curiosos ocorridos na localidade.

“Existia no território uma anta com espírito maligno. Em determinado dia um astuto caçador conseguiu prender o animal numa armadilha. Na ânsia de tirar o feitiço da anta, o caçador partiu para esfolar o animal vivo. Mas logo no primeiro talho a anta conseguiu escapar, deixando para trás sua pele e penetrando mata adentro”, escreveu o jornalista Manoel Dantas, no seu livro Homens de Outrora.

A anta esfolada ficou amedrontando os moradores e o lugar ficou conhecido como Anta Esfolada durante muito tempo. Reza a lenda que um missionário jesuíta fez uma cruz com os ramos do inharé (arbusto abundante naquele tempo) e fincou no alto de uma pedra por onde a anta costumava passar. Depois da nova cruz, a anta nunca mais foi vista e a cidade ficou conhecida como Nova Cruz.

Para preservar a memória da cidade, a Praça do Marco Zero é testemunha silente, onde foi fundada Nova Cruz, nos idos de 1852. De acordo com Manoel Dantas, foi neste local que o frei jesuíta Serafim fincou a cruz. Para o povo da cidade, a nova cruz representa a história que deu vida à cidade, preservando a memória do povo sertanejo que mora na ribeira do Rio Curimataú.
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Passeando pela memória de Nova Cruz-
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, símbolo de devoção e fé.
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Quem vem à Nova Cruz, a dica é fazer uma visita a Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Construída no início do século passado, a igreja é um prédio imponente, como seu altar-mor e suas colunas interiores que lembram colunas de igrejas góticas. Além do seu valor arquitetônico, a Igreja Matriz tem o seu valor sentimental, a grande maioria dos nova-cruzenses se batizou, crismou, fez a primeira comunhão e casou.

No alto do bairro São Sebastião, uma igreja majestosa se destaca com os sinos anunciando as horas mortas da tarde. Para celebrar a devoção do glorioso São Sebastião, a cidade faz festa no dia 20 de janeiro onde uma grande procissão carrega a fé do povo no andor do santo, pedindo um ano de bom inverno. Após a novena, a programação mundana acontece com quermesse e atrações musicais.

Pela beleza, o prédio da Prefeitura de Nova Cruz é uma atração que vale uma foto. Construído especialmente para ser a sede do executivo municipal, o edifício apresenta traços arquitetônico de art decó, no melhor estilo dos prédios do início do século passado. Localizado no centro da cidade, o imponente prédio merece ser observado e se o visitante tiver sorte, poderá entrar para visitá-lo.

Construída em fins do século XIX, aproximadamente em 1883, o prédio da Casa da Cultura de Nova Cruz é outro exemplo da conservação do patrimônio arquitetônico da cidade. Antigamente, funcionava a estação ferroviária. Sua arquitetura segue o padrão das demais estações, aplicado pelos ingleses ainda no tempo da antiga Great Western. Hoje, a Casa de Cultura apresenta a fina flor das manifestações culturais da cidade.

Em Nova Cruz, vários casarios imponentes podem ser vistos em toda a cidade, resquício de uma época quando a cana-de-açúcar era o grande produto agrícola. Localizado por trás da Igreja Matriz, o casarão de “Seu Euzébio” foi erguido no início do século XIX e merece uma visitação para observar a cúpula romana no final da escada e uma grande varanda. Detalhes na fachada com eira e beira.

Uma festa no campo-
Rua central que movimenta o comércio da região.
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Uma das melhores épocas para visitar o sertão é durante o mês de junho, quando o inverno trás as festas juninas ainda úmidas da chuva. Nesse tempo, o visitante pode colher, na paisagem sertaneja, o encanto das tardes muito bem escondidas nos barreiros na beira das estradas. Quietas, as casinhas cochilam com suas mulheres esperando seus homens cansados de roça.

Quem vem na estrada potiguar para entrar na cidade, antes de cruzar a ponte que corta o Rio Curimataú, a Fazenda Santa Gertrudes é logo vista, tendo como sentinela permanente a estátua do velho Diógenes da Cunha Lima, patriarca de uma família de políticos e advogados que atuam em terras paraibanas e potiguares. Muito bem cuidada, a fazenda é uma tradicional referência para a identidade do seu povo.

Em tempos de festa, a Fazenda Santa Gertrudes abriga centenas de vaqueiros que participam de uma cavalgada que cruza os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Forró pé de serra e cachaça boa fabricada na região animam os vaqueiros que participam de um dia inteiro na festa de vaquejada, realizada no pátio da casa grande.

Para refrescar o passeio pelo sertão, um banho no Açude Pau Barriga é a melhor pedida. O açude é um dos reservatórios d’água mais antigos do Rio Grande do Norte, que sempre abasteceu a cidade até a chegada da adutora. Atualmente, o açude abriga as melhores festas do município e, em tempos de carnaval, é o point da moçada mais jovem.

Localizado na Fazenda Lapa, o Açude Pau Barriga é uma das grandes atrações turísticas de Nova Cruz que pode encantar o visitante. O local tem um clima agradável e é rodeado de belos visuais. Currais de gado e a casa grande da fazenda são atrações a parte que encantam o visitante pela simplicidade de uma vida no sertão de Nova Cruz.

Arquitetura Arte decó do prédio da Prefeitura de Nova Cruz.

Igreja São Sebastião, no bairro que leva o nome do padroeiro.

Rua mais antiga da cidade.

Estação de trem que virou Casa de Cultura.

Açude Pau Barriga.

Fazenda da família Cunha Lima, na entrada da cidade.

Cruz chantada em homenagem a anta esfolada.

Praça e o colégio Nossa Senhora do Carmo.

Ponte sobre o Rio Curimataú.

Casarão mais antigo da cidade.

Divisa da PB com o RN não há área rural, as cidades se emendam.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Lajes Pintadas

A lenda no riacho dos desenhos rupestres

REGIÃO AGRESTE

Matriz de São Francisco no centro de Lajes Pintadas.

Localizado na Região do Traíri, o município de Lajes Pintadas está a 135 quilômetros de distância de Natal, onde uma população urbana e rural abriga, aproximadamente, 5.300 pessoas habitando numa área serrana de clima agradável. Desmembrada do município de Santa Cruz, a cidade de Lajes Pintadas foi criada em 31 de dezembro de 1958.

De acordo com Câmara Cascudo, no livro “Nomes da Terra”, o riacho das Lajes Pintadas, afluente dos Rios Inharé e Traíri, tem esse nome por suas águas banharem algumas pedras com escrituras rupestres na localidade, desenhos deixados por antigos moradores daquelas serras. Mas, conforme a historiografia local, as lajes foram explodidas pelos proprietários da terra para abrir estradas. Os pedaços de rocha foram usados como paralelepípedos. Uma perda cultural e histórica imensurável, sentida por todos os moradores e estudiosos.

No seu livro, o Mestre Cascudo diz que o antigo proprietário das Lajes Pintadas, João Francisco Borges, reunia os moradores rurais para promover cultos religiosos a São Francisco de Assis, em torno do quadro do santo que trouxera do sertão do Canindé, no Ceará. A Capela de São Francisco foi construída em 1935, pelos irmãos Eduardo e Elias Borges. “O quadrinho com o primitivo São Francisco, trazido do Canindé, ainda existe na Igreja São Francisco”, revela Cascudo.

A religiosidade sempre foi uma constante em Lajes Pintadas, fazendo com que o Padre Benjamim Sampaio, na época vigário de Santa Cruz, agraciasse a comunidade com uma imagem de São Francisco vinda do Orago, no Rio de Janeiro. Durante a procissão de São Francisco, sempre realizada no dia 4 de outubro, é comum ver adultos, jovens e crianças vestidas de marrom, com os pés descalços como franciscanos, pagando promessas por graças alcançadas. Casamentos, batizados e crismas também são realizados durante as festividades em homenagem ao Santo.

A criatividade impulsiona a economia da cidade
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Açude da cidade contribui para a economia com a pesca e ajuda o abastecimento de água em tempos de seca.

Lajes Pintadas tem sua atividade econômica voltada para a agricultura familiar, a pecuária e o serviço público. O artesanato lasjespintadense tem como base o sisal para confecção de tapetes e ornamentos domésticos e a pedra sabão, usada para esculturas e peças de acabamento na construção civil.

Os artesões locais, através da Associação dos Artesões de Lajes Pintadas, têm suas obras vendidas para a capital do Estado e alguns países da Europa, como Itália, Espanha e Portugal.

A cidade ainda possui um grande potencial em mineração, uma reserva econômica que já está sendo explorada. A região de serras é rica em minérios como água marinha, feldspato, quartzo rosa, berilo, tantalita, mica, entre outras pedras. Hoje, com o incentivo da Prefeitura na mineração, é empregado mais de 60 pais de família.

Teatro e cultura popular
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Peça teatral no adro da antiga capela de São Francisco demonstra a devoção no santo e mostra o talento teatral dos filhos de Lajes Pintadas.

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Resgatando a cultura popular e mantendo a tradição religiosa, a administração municipal incentivou a criação do “Auto de São Francisco”, um espetáculo teatral ao ar livre, envolvendo somente moradores do município na produção e na dramaturgia. Todo ano, o Auto de São Francisco é apresentado nos dias 4 e 5 de outubro, durante as comemorações da festa do padroeiro, atraindo um grande público.

Aliando as tradições religiosas, um povo acolhedor e a boa vontade do executivo municipal, Lajes Pintadas vem se despontando como uma cidade que se desenvolve rápido, criando melhores oportunidades de vida para esse povo sertanejo. O espetáculo teatral Auto de São Francisco é um exemplo vivo, uma das formas que os lajespintadenses têm para conquistar sua própria identidade cultural, contando a história do Santo e dos desenhos rupestres que viraram lenda.

Riacho onde havia as escrituras rupestres que davam nome a cidadee foi explodida pelo priprietário que vendeu como paralelepípedo.
- Matrix de São Francisco de Assis.-

Ensaio da pela teatral no adro da capela de São Francisco.
- Peça sendo ensenada em homenagem a São Francisco, padroeiro de Lajes Pintadas.
- Cena do Auto de São Francisco, realizado pelos moradores da cidade.